Como o Boaventura diz em seu texto Um discurso sobre as Ciências na transição para uma ciência pós-moderna que a ciência está numa fase de transição, resolvemos falar sobre o modelo científico anterior a esta transição, ou seja, a ciência moderna, que Boaventura chama de paradigma dominante. No seminário, tratamos mais do surgimento desse modelo, a revolução científica, do que dele em si.
Farmácia alemã do século XIII. Na antiga alquimia, os limites entre a ciência e a magia eram bem pouco nítidos Dispnível em: Os cientistas. São Paulo: Abril Cultural/FUMBEC, 1972. |
No entanto, essa é uma atitude humana que nem sempre existiu. No Antigo Oriente, faltava ao conhecimento de então certa sistemática e a busca por generalizações. Elaboravam-se “receitas” para problemas específicos.
Já na Grécia Antiga, surge algo mais parecido com a ciência moderna. O predomínio do comércio e artesanato sobre a agricultura, e uma maior liberdade de expressar suas ideias, permitiu ao homem grego questionar suas tradições, criando a democracia, a filosofia ocidental e a ciência teórica.
No entanto, havia um preconceito contra a experimentação, pois as atividades manuais não eram dignas de homens livres (escravos, servos e mulheres não participavam da democracia).
Na Idade Média, houve um exôdo urbano (talvez o primeiro da história) devido ao colapso do Império Romano e às invasões bárbaras. As pessoas fugiam para os feudos, o que restringia a circulação de ideias. Apesar do predomínio da visão transcendental sobre a terrena e da vida agrária, é questionável falar em Idade das Trevas. Afinal, houve o desenvolvimento da lógica com a escolástica.
Na transição para a Idade Moderna, com as Cruzadas e o ressurgimento das cidades e do comércio, a classe social emergente, a burguesia, precisava de novas manifestações artísticas, filosóficas e científicas de acordo com seus valores.
Assim, o Renascimento resgatou idéias da Antiguidade Clássica. Com a reforma religiosa, a Igreja perdeu influência, o que permitiu uma diversificação de pensamentos. A invenção da imprensa facilitou o acesso ao conhecimento. E as grandes navegações levaram o europeu, que presenciava formas de se ver o mundo diferentes da sua, a um ceticismo.
A esse processo de mudanças, pelas quais a ciência passaria após o Renascimento, o historiador francês Alexandre Koyré chamaria, em 1939, de Revolução Científica. No entanto, há um debate em torno deste termo. Para alguns historiadores, não houve uma ruptura e sim um desenvolvimento intelectual contínuo entre a Idade Média e a Idade Moderna. (Leia mais em en.wikipedia.org).
Apesar de, como já foi dito neste blog, não podermos considerar a ciência como mero produto de grandes homens, é importante lembrar de alguns. Como Francis Bacon, um dos principais defensores do empirismo (experimentação), e Descartes, para o qual a matemática deveria ser a linguagem da ciência.
Logo, a ciência moderna, um conhecimento sistematizado, influenciaria profundamente o pensamento ocidental, racionalizante, como diz Boaventura:
"A consagração da ciência moderna nestes últimos quatrocentos anos naturalizou a explicação do real, a ponto de não o podermos conceber senão nos termos por ela propostos." (1988, p.68).
Acho que é difícil generalizar a ciência como mero produto de grandes homens. Ao longo de toda a história, podemos observar uma evolução das linhas de pensamento que se deu com o acréscimo de várias ideias, em um processo que envolveu inúmeras pessoas. O que acontece é alguém finalmente conseguir juntar tudo e compreender o assunto de outro modo, que é o que estavam procurando, e essa pessoa acaba ficando com todo o mérito. Mas a ciência não deixa de ser um trabalho colaborativo.
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